sábado, 20 de dezembro de 2014

Minha vida acabou!

Há uns 3-4 anos eu conversava com meu amigo Danny pelo skype e ele, pai de 2 filhos, tentava me convencer de como seria legal aumentar a familia.

- Danny, eu não quero filho ainda.
- Por que não?
- Porque minha vida vai acabar
- Claro que não cara! Só fica melhor. Vc ta enganado.
- Tô fora Danny. Gosto demais da minha familia de 2

Alguns anos depois, começa essa blog e tudo que vocês já sabem. Lembrei da conversa com o Danny e comecei a pensar no como era versus como é

ERAÉ
Casa alugadaCasa financiada
Bastante dinheiro investido na bolsaPouco dinheiro numa poupança ameaçada de morte
Passeios de moto frequentes em cidades próximasPasseios a pé raros em volta do quarteirão
Férias no exteriorFérias?
Amigos falando bobagemCasais semi-conhecidos falando de filho
Carro pequeno, sem opcionaisCarro menos pequeno, com opcionais
3 visitas da familia por ano489 visitas da familia por ano
Vinho, jantinha, filme, namoro forteDormiu! Vamos!!!
Hoje vou chegar e capotar!Preciso muito dormir. Vc segura a barra hoje?
Dinah! NÃO! Sai daí cadela!Pedro! NÂO! Sai daí filho!
Pega a bolsa e vamosArruma a bolsa, as frutas, a mamadeira, dobra o carrinho, coloca blusa nele e vamos
Enrolar na cama domingo de manhãHoje é domingo? Verdade!
E aí, como vocês estão?E aí, como tá o Pedro?
Fila comumFila preferencial

ATENÇÃO! Agora vem aquele clichê de falar que eu não sabia de nada e agora minha vida faz muito mais sentido!

O cacete! Eu gostava de como as coisas eram e tenho saudade. E antes que chamem a tropa de choque não tem ninguém aqui arrependido da paternidade. Só não desenvolvi a hipocrisia necessária pra falar que agora é mais divertido que antes.

Depois de um ano e pouco, finalmente saquei que eu preciso aprender a garimpar prazeres onde eles não estão evidentes. Garimpar sim porque é fácil se divertir num ensaio de "pa-paaaa" mas num catarro de nariz que entra acidentalemnte pela boca é dose.

To mais pobre, mais chato e com menos assunto mas é como se meu espírito de porco estivesse em obras. 

Sabe aquelas cobras que abandonam a casca velha e saem formando uma casca nova? As vezes eu me sinto... a casca.

Eu estava certo Danny. 

Com a paternidade a vida acaba mesmo. Da minha não sobrou quase nada.
PORÉM acaba pra começar outra. Dessa outra até agora eu só gostei do Pedro, do aumento de visitas familiares e da fila preferencial. 

Ele tá quase falando. Aposto que tem algo a me ensinar sobre isso.



domingo, 23 de novembro de 2014

Por que ele só brinca com o que não presta?

Não filho...
NÃO filho...
NÃO FILHO!!!! LARGA! FEIO! CACA! MORTE!

Um dos meus aprendizados mais recentes é que não importa o que vc faça, quanto esconda, proteja, distraia ou disfarce. Os pequenos SEMPRE vão encontrar o objeto mais inadequado possível pra brincar.

Se tem uma coisa que todo pai e mãe sabe é que não adianta comprar um controle remoto ou celular de brinquedo pra criança arregaçar a vontade. Ela quer o de verdade, que é caro e não pode quebrar, pra fazer companhia as tomadas talheres, chaves, ferramentas, remédios, produtos tóxicos e um monte de outras coisas no padrão se-pega-no-olho.

Fiquei pensando por que diabos eles não se interessam pelas coisas seguras. A gente tende a gostar do que não presta até o fim da vida, é verdade, mas que raio faz brinquedos projetados justamente pra despertar interesse serem preteridos assim que aparece algo que eu não quero que ele pegue?

Pela novidade eu sei que não é. Afinal o controle remoto preferido está jogado pela sala há tanto tempo quanto o abandonado jacaré de pano ou o leão de plástico.

Pano, plástico...

Um pouco exausto, com sono e meio que desistindo de tomar coisas da mão do Pedro, fiquei observando os brinquedos enquanto ele brincava com meu revólver.

- Tapete de borracha
- Bichos de pano
- Legos gigantes de plástico
- Bolotas de plástico de encaixar

Borracha. plástico, plástico..

Talvez tenha encontrado a resposta: os brinquedos precisam ser tão seguros, resistentes, antisépticos e infalíveis que, na essência eles são miseravelmente iguais. Igualmente coloridos, arredondados e semi-flexíveis, botam a perder todo esforço das fábricas por uma textura, peso ou barulho diferente. Olhando a caixa cheia deles parecem mesmo farinha do mesmo saco. Um saco.

Eu também iria reto na tomada.




segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Escolinha... normal?

Veio o o novo emprego. Emprego normal, em horário normal. Me empurrando pra ser um pai normal.
Pais normais colocam seu filho em escolinha. Pais normais precisam ganhar dinheiro no horário comercial e gastar boa parte dele terceirizando o cuidado com seus pequenos.

Depois de tomar um "não" super normal na creche pública por falta de vagas, pesquisamos outros lugares normais, com cuidados normais, tocados por pessoas normais. Achamos alguns...

...que deixavam as crianças na frente da TV
...que cobravam 1/3 do meu salario
...que serviam bolinho de chuva e pastel a crianças de 2 anos
...que trocavam a brincadeira por um CULTO evangélico (com direito a uma musica bizarra que dizia que pra cuidar do piu-piu porque era de deus).

Optamos pelo que parecia mais normal e que acomodava nosso salário normal.

Sempre ouvi dizer que no primeiro dia de escolinha quem choravam eram os pais. De saudade, remorso ou fraqueza que fosse, mas choravam. Ouvi que passa, que é normal.

E eu, o pai do Turno do Dia, num esforço pra ser normal deixei lá meu guri. Sem choro dele nem meu. O que teve foi curiosidade dele e raiva minha.
Raiva da vida ser assim, de ter que batalhar o maldito dinheiro normal enquanto meu guri fica sob cuidados de desconhecidos.

Tenho a sensação que não vai passar. Eu não consigo ver vantagem em deixar uma criança de 1 ano passar 60% do tempo longe dos pais. Aqueles 60% da minha planilha, lembra? Aquela fatia de cuidados que dava orgulho de botar minha mão de pai.

Terceirizei. Perdi. Odiei.

"É normal".


sábado, 6 de setembro de 2014

Pra que isso?

E fizemos a tal festa de 1 ano com tema de fazendinha.
Eu sem emprego, a gente com uma casa em fase de acabamento e zero dinheiros em cada bolso. Qual é a coisa mais ajuizada a fazer? Uma festa, é claro.

Desde que o Pedro nasceu ele se revelou um talento em juntar gente. Primeiro foi atraindo visitas a UTI, onde elas nem sequer podem entrar. Depois foi com seguidores de facebook, do blog, de um monte de coisas. No aniversário não foi diferente. A gente resolveu que ia-fazer-a-festa-e-pronto nem que tivesse que fazer na mão cada enfeitinho cheio de frescura. Algumas pessoas caíram na imensa besteira de oferecer ajuda e não recusamos nenhuma. Todo mundo botou a mão na massa.

Teve quem costurasse saco de café, quem adiasse angioplastia, quem brigasse com chefe pela folga, quem deixasse marido pra tras e pegasse estrada e até que quase desse a vida pela festa: sujeito despencou do teto pendurando enfeite. Nada grave.

Festas assim não custam barato e muita gente questiona. Principalmente em tempos de perrengue. Eu mesmo era desse time um pouco pela estravagancia envolvida e outro pouco porque coisas mais simples me agradam mais.

Todo esse questionamento roda, roda, roda na cabeça de quem discorda e vez ou outra resume a indignação soltando um:

"Mas por que fazer isso tudo se a pobre criança não entende nada?"

Por favor, selecione na lista abaixo o motivo que mais te agrada:

- Porque os adultos gostam
- Porque bebe-se, come-se e conversa-se
- Porque amigos velhos se encontram
- Porque pessoas viajam pra chegar
- Porque a data merece comemoração
- Porque gastaria 1000 vezes mais se tivesse alguem doente (e nao tem)
- Porque pago muito mais ao governo todo ano e não ganho nem um brigadeiro
- Porque a vida merece celebração
- Porque alegria não precisa de justificativa
- Porque deu vontade
- Porque sim, que nesse caso é resposta sim senhor!

Agora quero fazer todo ano. Não precisa ter tema de fazenda ou qualquer outro tema, mas as pessoas vieram de tão longe que acho que a festa tem que ser bem cuidada.

Não é sobre doces, não é sobre enfeites, não é sobre pompa. É sobre juntar gente com alegria e ignorar um pouco aquilo que é tido como correto e responsável.

Velórios, que custam mais caro, ninguém questiona. Por que?



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A mãe-verdade

Eu nunca fui muito de garimpar internet a procura de informações sobre criação de filhos.
Pra ser bem honesto o assunto me cansa um pouco. Tá, sei que é esquisito ler isso num blog de paternidade. É que quando vc passa dos 30 parece que as pessoas em volta não sabem falar de outra coisa e eu acho meio cansativo mesmo.

Nesses meses de Pedro e de blog passei a ter contato com esse mundo e descobri no reino internético uma espécie cada vez mais comum: a "mãe empodeirada".

Eu nunca tinha ouvido esse termo antes, mas pelo que eu entendi se refere aquela mãe que se informa, pesquisa, tira suas conclusões e não vai em conversa de pediatra, sogra ou o diabo que for. Ela comanda, ela sabe tudo que é bom pra sua cria e está sempre por dentro das maiores descobertas sobre o que se passa com os bebês desde a época que ainda são fetos.

Bravo!

As bandeiras comuns a essas mães:
  •  Parto natural
  • Amamentação
  • Criação por apego (colo e peito sempre)
Legal né? Bem legal. Também acho. Esses assuntos são polêmicos e não interessa agora minha opinião sobre eles. O blog tem bastante material pra quem estiver curioso sobre meus achismos.

O que eu não acho legal é o comportamento de boa parte dessas mães frente a quem discorda delas. Para não fazer generalizações injustas vou batizar esse subgrupo de mãe-verdade. A internet é cheia delas.

Alguns fatos sobre as mães-verdade:

Uma mãe-verdade não tem opiniões. Ela tem verdades (daí o termo que acabei de inventar). Ela tem uma certeza tão absoluta que essas coisas são o certo que qualquer pessoa que discorde é um desinformado, antiquado, iludido, viciado pela sociedade e mais um monte de bobagens uma que ouvi outro dia:

"Só podia ser um homem. Homem não ama os filhos incondicionalmente."
Quanto amor nessa pessoa né? Um modelo.

Uma mãe-verdade não admite que uma mulher marque uma cesárea. Se ela faz isso, coitada. Está sendo enganada por alguém. Por um médico mercenário. Uma mãe arcaica. Um marido idiota.

Uma mãe-verdade quase chama a polícia quando vê uma lata de NaN pois apenas criminosos não deixam suas crias beberem da super-fonte-mais-rica-e-sagrada-do-mundo-como-os-bichos-fazem que é o seio da mãe. Não existe não ter leite, não existe exceção, não existe criança com fome, não existe nada. Só existe o leite materno. O resto é preguiça e desinformação.

Uma mãe-verdade acha que tem o direito de ser grosseira com qualquer um que se aproxime quando ela está amamentando e pergunte se ela quer ir a um lugar mais reservado. Afinal não há nenhuma chance daquela pessoa estar apenas sendo gentil e oferecendo um lugar mais confortável. É certo que é um idiota preconceituoso e tarado.

Uma mãe-verdade sente pena de qualquer um que escolha deixar seu filho chorar um pouco ao invés de dar logo colo. Afinal essa pessoa é muito desinformada e não está a par de todos os estudos que comprovam que as crianças sentem nisso um abandono terrível (já cansei de pedir pra me mandarem um estudo desses, mas em geral me ignoram ou xingam e não mandam nada).

Uma mãe-verdade é bem informada. Verdade. Mas ela não respeita a informação dos outros. Ela é cega no que acha que sabe e rejeita qualquer possibilidade de mudar de idéia a menos que a idéia nova venha do grupo de mães-verdade que ela segue.


Meu amigo Igor, pai de 2 filhos, sabiamente disse sobre criá-los:

"Certo é o que vc acha certo".

A frase é meio perigosa mas carrega muita sabedoria. Não significa que vc vai baixar a cabeça como um burro brabo e sair fazendo coisas sem se informar. Significa sim que cada um tem direito de buscar informação e aplicar como lhe convém sem nenhum militante maluco ficar enchendo o saco.

Todo mundo pode defender o que quiser e até oferecer orientação quando couber. Só que ninguém precisa de um guarda de trânsito de maternidade apitando no ouvido quando uma decisão vai contra aqueles milhares de estudos que eu nunca vi.

Lembrar sempre:
UMA boca
DOIS ouvidos


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Um dia de Rede Globo

É... nós fomos mesmo lá.
Participamos ao vivo do tal programa da Fátima Bernardes e lá fomos entrevistados sobre este blog. Foi divertido.
Todo mundo pergunta como foi, então vou contar mais ou menos.

Eles estavam em contato comigo ha uns 4 meses. Por um motivo ou por outro ainda não tinha encaixado um programa pra gente participar. Chegando dia dos pais, alvo fácil. Me ligaram pra continuar a conversa.

Eles pagam cachê? Todo mundo pergunta isso.
Não. Pelo menos pra mim não. Pagam viagem, estadia, alimentação e locomoção. Vc sai daqui, chega la, participa do programa e volta pra casa sem gastar nem ganhar nada.

Chegando la encontramos o primeiro motorista que como todo bom carioca já chegou tirando sarro

- Saiu pela porrta errada, rapá! É aquela ali ó!

E lá fomos nós pro carro. A Elaine carregava três malas, eu carregava o Pedro no colo e o motorista carregava... a chave do carro. O PROJAC fica no fim do mundo e o hotel era la perto. Hotel normal, bem confortavel. Arrumaram até um berço pro Pedro.

Novo dia, novo motorista. Fomos pro PROJAC e nos credenciamos na portaria como se faz em qualquer empresa grande. Pegamos um carrinho eletrico tipo desses de golfe e rumamos para o estudio G.

La cada programa tem um predio, que é um estudio. Tem os predios das novelas que é aonde ficam todas aquelas pessoas que a galera quer saber se vimos e o estudio do programa Encontro tem as pessoas do programa Encontro.

Eu nao conheço as pessoas da TV e isso poderia me render um constrangimento. Contei com a ajuda da Elaine pra evitar que, desinformado, eu pedisse a algum astro recente pra me trazer um café.

Passamos por mais uma recepção e fomos recebidos por um dos produtores do programa. Instruções simples e rápidas, basicamente só tinhamos que esperar.
Comecei a ler os papéis na parede e achei o que falava do programa que íamos participar. Tinha uma familia que teve a casa atingida por um avião e um cara que nao via o pai ha 13 anos. Nossa história ficou pequena.

Tinha um camarim de mulheres onde guardamos nossas malas  e a Elaine ficou com o Pedro. Outro pra homens aonde eu entrei e tinha alguem famoso que eu não conheço. Tinha ainda uma sala grande onde se juntavam todos os convidados e uma grande boca-livre sobre a mesa. Tinha me empanturrado no hotel e a boca livre ficou intacta.

De vez em quando vinha uma pessoa e dava mais um pouco de instruções. Combinamos a brincadeira das comidas que as crianças se lambuzaram e tal. Deu um pouco de trabalho pra chegar num acordo do que colocar pro Pedro. Ele estava vomitando tudo que comia desde Campinas e eu nao tava querendo ser muito criativo com o rango dele.

De repente a Elaine sumiu por 5 min e voltou maquiada e de cabelo novo. Eu nunca achei muito legal mulher maquiada. Sempre que ia nos casamentos e bailes de formatura da vida ficava com aquela sensação que todas são mais bonitas sem aquela massa corrida. Nesse dia descobri que os maquiadores de casamento/formatura é que são ruins mesmo. Ela ficou lindona.

Mulheres: na próxima procurem um maquiador de TV.

Uma coisa que me impressionou bastante é como as coisas funcionam bem. A última empresa que trabalhei me deixou um má impressão sobre grandes corporações mas ali a coisa realmente é organizada. Cada pessoa sabe exatamente a sua função e cumpre seu papel com uma calma que nem parece que vai entrar um programa ao vivo dali uns minutos.

Nos levaram pras primeiras fileiras da plateia, assistimos um breve ensaio da parte musical que passaria no programa, Fátima Bernardes veio se apresentar e fazer as honras da casa e...

- 4 minutos para o inicio do programa

É... da frio na barriga. É esquisito pensar que vc está do lado de lá. As pessoas começam a se posicionar, entra famoso com mulher e filha brincando pelo cenário. Elaine?

- Mário Frias
- Obrigado.

Chegou tb o Bruno Vento Ventania Golveia.

- 2 minutos para o inicio do programa

Os musicos se posicionam, as pessoas começam a parar de conversar na platéia. A Elaine me faz 3 recomendações por segundo. "Fala bom dia quando falarem com voce!", "segura o microfone assim".

- 45 segundos para o inicio do programa

A menina-filha-do-famosos surta e começa a espernear no colo do pai. Não vi o que desencadeou a coisa

- 15 segundos para o incio do programa

Pessoas tentam fazer alguma coisa pra interromper o surto.

- 3... 2... 1. Surto controlado. Começa o programa.

Nossa participação era no segundo bloco e não é facil conter uma criança da idade do Pedro quieta no seu colo por cerca de meia hora. La pro final do primeiro bloco ele começoiu a tumultuar. Deve ter vazado um audio de choro. Me tiraram de la. O pai do blog entrou em ação e foi trocar fraldas. Voltei em cima da hora e deu nisso.

Queria ter falado de um monte de coisas importantes, mas os ganchos são pra comentários light. Achei que iam dar o nome do blog, bobeei e nao disse no ar. Paciencia. Vacilo meu. Depois que passa a gente fica querendo ter dito tudo diferente.

No final algumas fotos e todo mundo tratado com muita educação e respeito até a porta de saída. Gostei mesmo do suporte deles.

Algumas frases edificantes dos meus amigos sobre nossa participação:

- A Elaine tava linda e o Marim... tava lá
- O Marim ta gordo né...
- Marim, vc era seguramente a pessoa mais feia de toda aquela bacada. Dava impressão que nem devia estar lá

Ah... o sucesso.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Com uma mão só

Pedro continua naquela fase que não existe lugar seguro.
Deixar ele sozinho sem estar preso/amarrado significa que ele vai cair, bater a cabeça em algum lugar, dar com a cara no chão ou meter a mão em alguma daquelas coisas se-pega-no-olho.
Isso significa que se ele esta acordado a gente tem que ficar do lado e se precisamos ir pra outro lugar, ele tem que estar no colo.

Conclusão: ou minha vida passa a se orientar pelo sono do Pedro ou eu desenvolvo uma nova habilidade de fazer tudo com uma mão só já que um braço está sempre servindo de banco pro jovem.
E antes que alguém me sugira usar aquele canguru, quero destacar algo que apenas um pai pode constatar sobre o uso desse equipamento: o calcanhar do bebe fica perigosamente na altura do nosso saco. Parei de usar canguru quando o Pedro granhou força nas pernas.

Desde que essa fase começou já causei vários pequenos desastres em casa tentando usar uma mão só pra tarefas simples. Já derrubei o coador de café cheio de pó, já deixei a cachorra escapar abrindo o portão, já escrevi e-mails com txeots mieo cnofsuos e até já interrompi reunião com gringo pelo telefone pra abafar choro. Mas alto lá! Também tem toda uma história de sucesso! Já esfreguei roupa com uma mão, já fiz suco, ja estendi roupa e outro dia me senti matando o ultimo chefão do jogo: AMARREI CADARÇO COM UMA MÃO!

Esse turno do dia já me ensinou muito. Trabalhar a noite e ver o filho crescer de dia é mesmo um baita privilégio. Privilégio que por essas coisas da vida está agora ameaçado. Na última quinta-feira perdi meu emprego. "Corte de custos", falou meu gerente enquanto assinava os papéis que encerravam um ciclo de 8 anos.

Meu pai sempre disse que o certo era demitir a pessoa na sexta-feira porque ela tinha o fim de semana pra pensar na vida e começar a segunda com o gás necessário. Hoje, segunda, dia de ir a luta. Amarrar cadarço até que não foi difícil. Vejamos agora como é procurar emprego com uma mão só.



segunda-feira, 7 de julho de 2014

Aquela coisa que só acontece com os outros

Uns amigos passaram aqui pra uma visita relâmpago. Elaine não estava em casa, eu não tinha feito almoço ainda e decidi ir almoçar com os forasteiros em algum canto pra conversar. Coloquei o moleque na cadeirinha e fomos todos sacar dinheiro no 24 horas que fica no pátio de um mercado daqui.
O caixa é daqueles abertos, sem cabine e fica colado a um quiosque de chaveiro. Pedi licença pro tio das chaves, coloquei a cadeirinha do Pedro no balcão dele enquanto sacava minhas Dilmas.

Grana na mão, partimos pra almoçar a quilo e tirar o atraso de papo. Eram velhos amigos que não via há anos. Mas no meio do caminho...

PEDRO!

Tinha sacado o dinheiro conversando, voltei pro carro e esqueci o moleque no balcão do chaveiro.

Não lembro do trajeto de volta pro mercado. Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Não era possível. Eu tinha acabado de ver um vídeo de uma campanha gringa pra conscientizar sobre o esquecimento de crianças dentro do carro. Não podia ser... não podia ser!!! E agora? Ele ainda ta la? Ta vivo? Roubaram ele? Meu deus do céu. Se juntar todas as idiotices que ja fiz na vida e multiplicar por mil não chega nem perto dessa. Idiota! IDIOTA!

Voei do carro pro chaveiro. O cara tava la exatamente na mesma posição de quando falei com ele, mas nada da cadeirinha.

- CADE?
- Ah, seu moleque passou andando ali ainda agorinha
[Peguei o cara pelo pescoço]
- ELA NAO ANDA AINDA! CADE O MOLEQUE SEU FILHO DA

Acordei mais suado que égua de grande prêmio. Coração na boca. Tinha sido real demais. O quiosque, o mercado, os amigos, era tudo igual o de verdade mesmo.
Sempre que acontece de alguém esquecer filhos dentro do carro ou coisa parecida essa pessoas logo aparecem dando entrevista na delegacia com milhares de dedos apontados pra si. É revoltante, mas não sei se é certo taxar essas pessoas de loucos irresponsáveis.

É um problema sério. Não subestimemos o desligamento que a vida moderna causa em nossas cabeças. Pode acontecer sim! Estejamos atentos, criemos o hábito de olhar pra cadeirinha toda vez que trancamos e destrancamos nossos carros.

Minha história é sobre esquecer fora do carro, mas esquecer dentro é um problema muito, MUITO sério. Nos EUA (que tem estatística pra tudo) a cada 10 dias morre uma criança desse jeito. Bastam 15 minutos para uma criança literalmente morrer de calor no interior de um veiculo estacionado.

Portanto, se assim como eu você:

- É sobrecarregado de afazeres
- As vezes sai com o bebê no carro, as vezes não
- Faz as coisas automaticamente pensando em mil outras

Se liga. Pode acontecer com você sim. Aconteceu comigo, só foi em outra vida

Esse é o video da campanha que falei. Esta em ingles, mas daria pra entender tudo mesmo que fosse em marciano.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Chegou o 71

Apontou o primeiro dente do Pedro. Pra nós mortais é um daqueles do meio, em baixo. Pros odontólogos é o "dente 71". Pro pai aqui é mais um negocinho pra limpar.

Limpar?

Isso. Limpar o dente. Igual escovar, mas como só tem 1 e nem ta todo pra fora uso um pedaço de gase e soro. A nova tarefa me fez lembrar de uma conversa:

- Ta conseguindo escovar os dentes dele?
- Ah, desisti. Dá um trabalhão e vai cair tudo mesmo. Depois cuida dos permanentes.

Antes de casar com uma dentista eu achava que dente de leite era uma porcaria meio sem sentido. Achava até que nem raiz eles tinham e podiam bem não aparecer pra dar menos trabalho. O tal do 71 me deu vontade de falar do que aprendi (felizmente antes da chegada do Pedro) sobre a coisa.

Dente não é osso!
Pois é. Eu achava que dente era feito de osso. Não é. Dente é feito de outras coisas e é preso na boca porque nasce cravado em ossos do nosso crânio.

Dente de leite tem raiz
A gente nunca a ve porque quando o bicho cai sozinho a raiz ja sumiu. Mas ele tem uma raiz cravada no osso como os dentes de adulto.

Dente de leite mal cuidado = prejuizo pra toda a vida
Quando vc ve uma boca cheia de dentes de leite, os permanentes tambem estao la. Escondidos. O crescimento deles se guia pela raiz dos de leite. Se os de leite são mal cuidados eles são guias ruins. Mal guiados, os permanentes são sérios candidatos a nascerem zoados. Olha só como é a boca de uma criança de 11 anos. A boca já está bem formada mas ainda dá pra ver os ultimos permanentes crescendo no rastro dos de leite ali na parte de cima:


Os dentes se movem como um time de futebolSe um dente cai fora do time, os outros cuidam de preencher o espaço dele. Se entortam o quanto for necessário pra isso e se forem de leite ainda abrem caminho pros definitivos a nascerem tortos (lembre-se que funcionam como guias). Tá certo que usar aparelho tá na moda, mas vai passar.

Dor de dente entorta a boca
Qualquer pessoa que tenha um dente doendo vai acabar automaticamente evitando aquela parte da boca na hora de mastigar. A mastigação errada pode causar dores na mandíbula e alterar a mordida.

Em outras palavras: dói tudo e entorta a cara NA HORA!!! Ta bom... essa parte é mentira.

Dente serve pra falar
Boca de criança sem saúde é caminho reto pra vários problemas de dicção. Os fonoaudiólogos agradecem cada dente sujo dos seus pequenos.

Vc fez seu filho bonito, mas isso pode mudar
Dentes mudam o formato do rosto. Nossa fisionomia tem bastante influencia deles. Perder os dentes antes da hora, mesmo os de leite, altera o rosto.
OK, vc pode contar com a sorte, nao escovar os dentes da criança e apostar se a cara dela vai mudar pra melhor, mas não acho boa idéia.


É caótico escovar dente de criança. O Pedro ainda não chegou nessa fase mas eu vejo o arsenal que minha Elaine tem no consultório pra convencer crianças a abrirem a boca. Tem jacaré laranjado, espelho em forma de boca, fantoche de ponta de dedo e um monte de coisas que até eu fico brincando quando vou la.

 Não da pra usar tudo isso em casa cada vez que o filho precisa escovar os dentes, mas algum jeito precisa dar. A limpeza desses carinhas é tão importante quanto... deixa eu ver... quanto a limpeza da bunda. Isso! Caprichem!


Com informações de Elaine V B Marim, CRO/SP 97410 que me fez mudar esse post 74 vezes pra ficar tudo beeeeeeeeeem explicadinho. :-)






segunda-feira, 23 de junho de 2014

Por que eles nos tiram do sério?

Meu moleque adora puxar meu cabelo.
É sem dúvida o recorde do sorriso largo. Cada puxão decidido é uma gargalhada.

Dói pra cacete.

É bom termômetro tb. Quando o bicho tá chorando igual um desavairado e eu não sei mais o que ele quer, ofereço o cabelo. Se não parar me preocupo.

Ter seu cabelo puxado é irritante, mas quando vem do filho não. É divertido. Prova cabal que a gente fica mesmo bem trouxa depois de dar cria.

Engraçado que em contrapartida uma mãozada bem dada na colher do almoço com o bocão aberto em choro pode te fazer dar um murro na parede. Não porque sujou o chão, não porque o choro irrita, mas porque você perdeu. De novo.

Não, não é uma questão de competitividade. É uma questão de ver esfregado na sua cara que você não está no controle. Aí vc não pode dar bronca porque ele não vai entender, não pode reclamar porque nem tem pra quem, não pode ir brincar de outra coisa porque é uma tarefa pra toda a vida. Literalmente.

E por que irrita?

Acho que irrita porque te faz ver la longe a vida que vc tinha antes. Te lembra daquele passado descorado em que você podia desistir do que te desagradava. Irrita porque a cabeça viaja ensaiando um "por que mesmo eu queria ter filho?" te causando remorso e culpa por sentir errado.

Aí depois de um daqueles dias bem caóticos ainda me vem uns e outros pra perguntar se quero ter outro. Pergunta besta. Claro que quero!


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Entre aspas

Um negócio engraçado que eu vejo tendo criança são as artimanhas das pessoas pra dar um palpite ou criticar alguma coisa que vc está fazendo. Maioria das vezes não é por mal, mas quase sempre é um saco.

Acho que o mais comum é falar entre aspas.

Vc tá andando com o jovem pela rua. Tá calor e vc vai feliz curtindo um sol com ele no carrinho. Passa uma senhorinha, fala que o bebê é lindo, segura o pé sem meia e diz:

- "Ai pai! Coloca uma meinha no meu pezinho!!!"
- "Pai"? "Meu pezinho"? Não sou pai da senhora não, dona! Aahhh, entendi. A senhora ta imitando meu filho que ainda não fala. Legal...

Por algum motivo as pessoas sabem que estão sendo meio inconvenientes mas tentam desviar disso falando como se fossem o bebê

"Ai pai, aqui ta frio!"
"Pai, me leva na casa da fulana que eu to com saudade"
"Eu gosto de ir com a tia [insira aqui o nome de uma pessoa chata]"
"Pai, me dá bala"
"Pai, essa comida ta fria"

Alguns até afinam a voz e fazem biquinho (!).


Pois bem senhoras e senhores, tenho dois segredo bombástico a revelar:

1) um pai NÃO fica sensibilizado quando você fala entre aspas
2) você NÃO consegue enganá-lo! O pai consegue MESMO notar que é você falando e não a criança! (oooooooooohhhhhh!)

Portanto, desculpe, mas quando você faz isso está mesmo sendo um chato. Sem aspas.



sexta-feira, 6 de junho de 2014

Paizão, pai zen, palavrão

Escrever o blog é legal.
Aparecer por aí com rótulo de paizão é legal tb.

Só que tem dias que dá uma derrota danada.
Tenho chegado ao fim do turno do dia com um certo esgotamento. Já é normal uma conversa que devia ser assim:

- E então, vamos comprar aquelas torneiras que a gente viu ontem?
- Vamos. Tá legal aquela. Não é cara e vai ficar boa.
- Beleza. Fechou 
Ocorrer na verdade assim:

- E então, vam...
- UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! UAAAAAAAAAAAAAAA!!
-... VAMOS COMPRAR AQUE...
- UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- Peraí... aqui. Pega o brinquedo. Pronto. O que eu tava falando?
- Da torneira
- UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
[pega no colo]
- Então acho que da pra UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAa COMPRAR AQUELA MESMO UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- AQUELA QUAL?? UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- AQUELA UMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA UAAAAAAAAAAAAAAA MAIS BARATA!!!!!!
- HEIN?
- UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- AH, F^%$-se. Depois a gente conversa. Acho que ele ta com sono.
- É, ja tenho que sair tb. Tchau
- Tchau
- UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

E brinca, e pega, e oferece comida, e troca fralda, e tenta fazer dormir, e "UAAAAAAA!". Dá uma incompetência na sua pessoa, sabe?
Tenho que admitir que volta e meia solto um palavrão cabeludo. Preciso parar com isso antes que o Pedro comece a entender as coisas. Imagina?

- Ele ta quase falando hein! Fala vovó, fala?
- PAIU!
- Hã?
- PU-KI-PAÍU!


Não ia prestar.

A coisa esgota mesmo. Esgota e começa a dar raiva porque parece manha. Dizem que bebês não fazem manha, que berram pelo que querem porque é só isso que sabem fazer. Mas a verdade é que o que passa na cabeça da gente é

"Será que tô criando um mimado?"
"Será que ele já entende um 'não'?"
"Será que já estraguei o carinha?"
"Seráqueseráqueserá?"

Aí vc tenta de tudo e do nada alguma coisa contenta o bichinho. Então ele te olha e abre aquele sorrisão. É nesse momento que... NÃO! Você NÃO esquece tudo. Isso é mentira da internet. Você se acalma sim, verdade. Mas ta estressado e sem paciência e leva bons minutos até achar muita graça em algo de novo.

Fiquei pensando sobre aqueles vídeos de babás malucas espancando crianças. Se antes eu tinha medo de contratar alguém, imagina agora que eu sei o tamanho do autocontrole que aquela pessoa sem qualquer laço afetivo precisa ter.
Além de ser muito profissa tem que estar totalmente zen, tranquila, sóbria, sem nenhuma divida no banco e se possivel que tenha feito um bom sexo na noite anterior. Aí sim tá 100%.

Os sábados estão mais necessários que nunca. To achando que o turno do dia ta começando a atrapalhar o da noite. Vai chegando o fim da semana e já bato o ponto com a cabeça dando sinal de ocupado.

UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
 










quinta-feira, 5 de junho de 2014

Jorge usa burca

Troca de mensagens ocorrida numa filial de empresa multinacional com escritório num país do oriente médio:
  
De: Raissa Nasser
Para: Gerente de Recursos Humanos
Assunto: Benefício negado

Prezado gerente de recursos humanos,
Gostaria de expor um problema que venho enfrentando em nossa corporação desde que fui promovida ao cargo de gerente comercial.
Como bem sabe, devido a natureza de nosso trabalho todo GC tem direito a um carro cedido pela empresa para fins de negócio. Ocorre que ao me instalar no novo escritório solicitei o benefício que me foi negado sob a alegação de que não está disponível para mulheres.
Considerando que nossa corporação tem renome internacional no tratamento igualitário, gostaria de solicitar a correção dessa situação concedendo o benefício a que tenho direito.

-
Raissa Nasser - Gerente Comercial



De: Gerente de Recursos Humanos
Para: Raissa Nasser
Assunto : Re: Benefício negado

Prezada senhora Nasser
A concessão de automóveis para gerentes comerciais homens é primariamente um benefício estabelecido por nossas leis trabalhistas. Por questões de legislação, o benefício se estende a mulheres apenas no caso desta ser viúva ou que seu marido seja fisicamente incapaz de dirigir.

Esperamos assim ter esclarecido suas dúvidas, estamos à disposição.

-
Said Saad - Gerente de Recursos Humanos


E aí pessoal, que tal essa? O cargo te da direito a um negócio mas vc tem que ter um cromossomo Y. Eu fico pensando o que faz alguém se sujeitar a viver nesse nível de atraso. Não bastasse a mentalidade cretina e sexista a coisa é apoiada, vejam, numa LEI do país. Vê se não é motivo pra colocar fogo em colchão!

Pois é. Só que isso aí não aconteceu no oriente médio não. Aconteceu só um pouquinho diferente aqui mesmo no Brasil. Reproduzo abaixo preservando identidades e referencias a empresa a troca real de mensagens enviada por um leitor do blog:

De: Jorge Silva*
Para: Gerente de Recursos Humanos
Assunto: Benefício negado

Prezado gerente de recursos humanos,
Gostaria de expor um problema que venho enfrentando em nossa corporação desde o nascimento de meu primeiro filho, há 3 meses.
Como bem sabe, nossa empresa oferece o auxílio creche a funcionários com filhos recém-nascidos até 12 meses. Ocorre que solicitei o benefício que me foi negado sob a alegação de que não está disponível para homens.
Considerando que nossa corporação tem renome internacional no tratamento igualitário, gostaria de solicitar a correção dessa situação concedendo o benefício a que tenho direito.

-
Jorge Silva


De: Gerente de Recursos Humanos
Para: Jorge Silva
Assunto : Re: Benefício negado

Prezado senhor Silva
A concessão de auxílio creche é primariamente um benefício estabelecido pela CLT. Por questões de legislação, o benefício se estende a homens apenas no caso deste ser viúvo ou divorciado que possua a guarda da criança.

Esperamos assim ter esclarecido suas dúvidas, estamos à disposição.

-
Gerente de Recursos Humanos


E a gente aqui criticando burcas e se achando moderno...




terça-feira, 3 de junho de 2014

Tempo de Pedro


Novidade aqui pessoal. Pra quem prefere, agora dá pra seguir os posts direto pelo Facebook. É só ir em https://www.facebook.com/turnododia e curtir a página pros posts aparecerem na sua timeline. O blog continua como sempre. É só um canal a mais.

----
Outro dia tava pensando numa riqueza que tenho perdido ao longo dos anos.

Tempo.

Dizem que a vida se divide em 3 fases:

No começo, vc tem tempo e saúde mas não tem dinheiro
No meio, vc tem saúde e dinheiro mas não tem tempo
No fim, vc tem dinheiro e tempo mas já não tem saúde.

A primeira vez que a gente vê o tempo que tem na vida sendo mordido é quando se casa.
Como esperado, se priva de várias coisas em troca de outras coisas boas e com surpresa descobre que não são as grandes liberdades que vão embora. Com alguma negociação vc ainda consegue beber, sair com os amigos, etc. mas o que morre mesmo são as pequenas vadiagens. Passa a ser meio que um crime vc ficar de bobeira por 5 minutos por exemplo. Sempre tem algo pra correr, decidir, comprar, consertar, limpar. Mas vc administra, aperta, acorda mais cedo, contrata uma diarista e continua quase dono do seu tempo.

E vem o filho.

Vc já sabia que não ia mais ter tempo pra nada, só não esperava que a agenda seria tomada de sua mão.
Numa bela noite você finalmente consegue sair pra jantar, ele dorme no carrinho feito um anjo e vc se ve no direito de tomar uns gorós. Chega em casa pra cair na cama meio tonto e... surpresa! O guri acordou. Ah, vc não está em condições de cuidar disso? Puxa campeão, que pena. Vai passando uma água nessa cara aí pra cuidar assim mesmo.

Não foi só seu tempo que dançou. Foi todo o gerenciamento dele. Foi o seu programa de ligar e desligar. Foi a sua dosagem de gasto de energia ao longo do dia (e da noite).

Teve uma vez no trabalho que eu andava tão ocupado que tive que reagendar uma reunião pra conseguir.. digamos... OBRAR. Verdade. Eu achava que isso tinha sido o maior absurdo temporosanitario da minha vida até ontem, quando passei o dia sem ir ao banheiro porque o Pedro não dormia.

- Não, não dava pra leva-lo pra dentro do banheiro porque carrinho não passa
- Não, eu não podia deixa-lo do lado de fora porque ele ja consegue pular do carrinho
- Não, eu não podia deixá-lo no berço porque ele berra como um leitão dentro de um saco
- Não, não, não tinha uma opção. Meu tempo tinha sido roubado até pro mais básico da vida.

OK, admito. Quando decidi ficar em casa com o Pedro cheguei a pensar que podia até fazer cusrso a distância enquanto ele dormia. Ta bom, foi uma idéia idiota. Eu não sabia o que estava por vir mas fiquei pensando se depois de aprender tudo sobre fraldas eu teria que comprar uma dessas de adulto pra mim.

Pô Pedrão, dá um tempo!


 A persistência da memória

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A vó, a mãe e a língua de sogra

E a vó foi embora.
Um baita de um socorro de duas semanas que nos permitiu colocar a vida em dia. Valeu mãe!
Não tenho feito posts porque estava literalmente de férias do turno do dia. A vó ficava aqui e nós fazíamos a correria que é bem mais suave sem precisar intercalar a rotina do jovem.

Chegava em casa e tinha criança limpa, alimentada e comida na mesa. Ô vidão!

De volta a vida real

O moleque tá mais esperto que nunca. Observa e ouve tudo e não quer saber de dormir durante o dia. Fica brincando, chamando e querendo ficar de pé. O carrinho não é mais um lugar seguro.
Ta grandão, indo pra 9 meses e isso disparou mais uma coisa inédita na minha vida: festa de aniversário.

Pra mim festa de aniversário de criança é aquela coisa que junta a molecada atrás de uma mesa com bolo meio torto, canta parabéns e enche a cara de beijinho e brigadeiro. Todos devidamente equipados com chapéu de cone e lingua de sogra. As mais elaboradas tem aquelas balas de coco com papel cabeludo.

- Falei com a Grazi sobre a festa do Pedro
- Grazi?
- É, a que organiza festas
- Organizar o que? Eu sei onde tem brigadeiro!
- Ai Flavio!!!

E aí fui iniciado no mundo da festa infantil que mais parece um casamento.
OK, eu já tinha ido a outras festas infantis e sabia como funcionavam hoje em dia. Mas pra mim isso era igual dengue: mesmo sendo uma epidemia vc acha que nunca vai pegar.

Só que eu já tive dengue. A festa me pegar era questão de tempo.

- E vamos fazer uns haburgerzinhos e cachorroquentezinhos
- Uia. Legal
- E aí quem estiver servindo...
- Hein? Servindo?
- Tem que preparar na hora e levar na mesa senão esfria
- Ninguem se importa com salgadinho frio em festa de criança!
- Ai Flavio!
- Perae... MESA? Nao é só espalhar umas cadeiras e as pessoas vão se acomodando, comendo no colo e...
- AI FLAVIOO !!!!!!!

Descobri que as festas tem mesas, cadeiras e até um TEMA. Fazendinha, marinheiro, galinha pintadinha, espaço, fundo do mar,... O bom disso é que deve gerar muito emprego. Hoje a pessoa pode, vejam só, ser especialista em brigadeiros em formato de disco voador!

- Mas perae! Aonde entra o-chapéu-e-a-lingua-de-sogra-e-a-bala-de-coco?
- Ah, nao combina com o tema
- Combina com criança, pô!
- As crianças nem conhecem mais isso.
- Não?
- Não.
- ...
- Dessas festas aí só sobrou o bolo.
- Uia! Entao vai ter que ser um meio grande né? Vai ter bastante gente
- Nao. O que fica na mesa é só pra enfeitar.
- Hein?
- É. Só pra tirar foto. O de verdade fica na geladeira e é distribuído depois

A falsidade ideológica invadiu o berçário. Que lástima...

Fiquei numa certa melancolia ao saber que meus acessórios favoritos na infância eram coisa de museu. No fim, em nome da preservação das linguas de sogra do mundo, propus o tema "Festa de Criança do jeito que eu conheço".

Perdi.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Criançotolerância

Começou a fase de acabamento da obra.
O cronograma rígido do financiamento não deixa a gente dormir no ponto e simplesmente temos zero minutos pra ir a uma loja e escolher pisos e azulejos.

Pedimos socorro e veio um simpático casal muito conhecido meu do Paraná pra ficar uns dias e dar uma força.

Esses dias escrevi como convidado num outro blog sobre pedir socorro as vós. Sou contra. Acho sacanagem. Na minha cabeça é tipo um superpoder que vc só pode usar de vez em quando, depois de ralar muito.

Enfim, usei o poder. Vôs felizes cuidando do netinho e conseguimos ir na loja escolher acabamentos.
Como a gente não manja nada disso, demora uma tarde inteira pra escolher uma parede e fica amigo da vendedora. Se não fica amigo, pelo menos aproxima o suficiente pra ela achar que pode falar mal de alguém.

- Gente... hoje tinha uma mulher aqui com uma criança... ah, pelo amor de deus. Tem lugar que não é pra criança né?

Pensei em nós mesmos e me escapou um "Tem gente que não tem com quem deixar né... E aí faz o que?"

Concordo que tem lugar que não é pra criança. Vou listar alguns:
  • Plataformas de petróleo
  • Bases para bungee jump
  • Prostíbulos e casas de swing
  • Teto de metrôs em movimento
  • Jaula de leão
  • Interior de imóveis em construção
  • Canaleta do Rio Tietê
  • Fileira colada na grade do show do Sepultura (mais pra trás pode)
Sim, realmente tem lugares incompatíveis com a molecada, mas perae... uma loja?
Tem muita gente que pensa assim. Tem muita gente que acha que criança é um animal selvagem e que sua presença em certos lugares devia ser simplesmente vetada.

Cabeça das cavernas.

Tá bom, tá bom. Vc deu risada quando falei "animal selvagem" e lembrou de alguma criança que conhece. Não seja ruim, eu sei que tem crianças-demônio. Também sei que não estou livre do Pedro se parecer o Taz quando completar 3 anos. Só que não dá mais pro mundo considerar que existe uma vó, parente ou babá pra esconder a criança cada vez que os pais tem um compromisso.

Lugares tidos como "não são pra criança" (lojas, igrejas, jantares,...) precisam se ligar disso e planejar uma tolerância. Que fique claro: um lugar criançotolerante não é aquele que deixa os pequenos pintarem e bordarem com a mercadoria e o material de escritório mas sim aquele que tem um espaço adequado pra eles.

Acho que todos os pais com quem já falei sobre isso comprariam numa loja mais cara se nela houvesse espaço pras crianças. Tenho amigos que escolhem restaurantes pelo criançódromo e já disse em outro post que a maioria das pessoas que conheço toparia ganhar menos pra trabalhar numa empresa com berçário.
Conheço um monte de mães que voltaria correndo a fazer academia (pagando mais!) se tivesse uma mini-creche lá dentro.

Pedir muito?

Que nada. Não é um pedido e sim um recado.
Empresário: nossa vida leva as crianças a tira-colo. Colocar um biombo no banheiro feminino e uma placa escrito "Fraldário" já não basta. A gente quer comprar de você e as vezes não compra porque seu negócio não é lugar de criança. Se liga, po!


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Não reclamarás!

Nos últimos dias recebi algumas mensagens de histórias bem punk.
A que mais me chamou atenção foi a do Rafael que teve que aprender do pior jeito como cuidar da sua pequena de 2 anos. A mulher dele se foi há 6 meses num acidente de carro.

Eu não consigo imaginar o que é isso. Não conheço o Rafael ou sua família. Não sei exatamente o que ele passou e uma coisa que me impressionou muito é que a mensagem dele não tem uma linha de reclamação. Apenas me parabeniza, resume sua história, comemora o aprendizado diário e me oferece ajuda pra divulgar a causa. Sim, ajuda. Se eu tivesse perdido minha Elaine há 6 meses eu com certeza estaria pedindo ajuda e não oferecendo. Grande cara.

Não reclamar.

Preciso ensinar isso pro Pedro.
Mais um desafio de criação escrito na pedra que mantenho aqui do lado do berço com as metas para os próximos 50 anos.

Não reclamar é arte.

Você acaba de deitar pela oitava vez e o nenê chora;

Faz 5 dias que não faz sol e o pingo de feijão encontra a última roupa limpa/seca do nenê;

Vc não está aguentando nem consigo e a praguinha abre um berreiro descomunal se não estiver no seu colo;

Vc tenta passar na porta do banco 74 vezes e depois de deixar carteira, celular, bolsa, relógio, revolver, cinto de castidade, oculos e capacete precisa explicar pro idoso todo prestativo organizando a fila preferencial que vc tem uma criança de colo e a fila não é dele

São testes. Só podem ser. Temos que pensar que estamos sendo testados e que ficamos um pouco melhores cada vez que deixamos de ralhar vida afora.

Não-reclamamadores tem uma força diferente. Eu tinha uma vó que jamais reclamava. Tenho um pai que nunca reclama e a maioria das pessoas com quem eu aprendi coisas pra toda a vida não reclamavam. Todos eram observadores e falavam pouco.
Tinham memória curta o suficiente pra não guardar rancores e longa o suficiente para passarem experiencias profundas em poucas palavras.

Gente assim é grande. Quem dera criar filhos com essa percepção.
Filhos que vão mexer no cachorro se o video-game queimar, que vão brincar de fantasma se a luz acabar, que vão partir a pé se o pneu furar. Quem dera conseguir criar filhos que conheçam tudo que é bom mas saibam viver com o mínimo. Que bom se puder fazê-los ver que é possível dar a volta nas perdas e ainda oferecer ajuda, como o Rafael.

E se não conseguir? Bom... se não conseguir vou tentar não reclamar.


Foto: Carlos Aliperte

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tem pai que é... um pai.

É pessoal... a coisa tá se espalhando. Nosso blog saiu na revista Crescer da Editora Globo e nossa história saiu no portal R7, da Record. Milhares de pessoas leram, compartilharam, nos conheceram e acessaram o blog neste fim de semana de dia das mães.
Os comentários que mais ouvi foram coisas como:

- Esse pai vale por uma mãe!
- Tem pai que é uma mãe!
- O nome disso é "Pãe"!

Nada disso gente. Pai que cuida vale por um PAI! Criança é obrigação de pai e mãe ora bolas!
Mãe que se desdobra é mãe das boas e pai que se desdobra é pai dos bons ué!

Fiquei feliz e orgulhoso com tudo que foi publicado, curtido e compartilhado sobre nossa família mas confesso que uma coisa me incomodou: meu turno duplo não é nada além do que milhões de mães fazem e fizeram a vida inteira: trabalhar fora e cuidar da casa e dos filhos. Boa parte delas com muito menos dinheiro e recursos. Sem informação, sem um bom plano de saúde, sem carro, sem latim pra se comunicar e conseguir o que é necessário pra si e os seus.

O que eu estou fazendo está sendo celebrado como se fosse grande novidade mas a única novidade real é que eu sou homem. Até acho que a mudança de mentalidade justifica alguma celebração, mas sem falsa modéstia: a única coisa que eu realmente fiz foi ter a vergonha na cara de quebrar o ciclo.

Semana passada um casal de lésbicas ganhou direito a licença maternidade pras duas. Coloquei um comentário no facebook dizendo que os casais homoafetivos, uma entidade recente, já tem mais direitos que nós, pais "convencionais". Ficamos pra trás. Quando eu disse isso, uma amiga chamou atenção: "Eles lutaram pra isso e ganharam. Sua vez."

Ela tem razão.

Eu vejo que há vários pais que se viram e participam. Há pais solteiros, pais que adotam, pais viúvos, há muito modelo bom escondido por aí. Falta aquele agito. Uma catarse de pais quebradores de paradigma que mudem o jeito de criar os filhos. Pais que escrevam blogs, livros, que entrem com ações na justiça para ter licença paternidade, berçários, direitos. 

Sim, ela tem razão: nossa vez.





PS:
Alguém sugeriu que eu montasse uma palestra pra conscientizar outros pais. Gostei da idéia.
Alguém aí tem um auditório vago?

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Carro de mulher

Tem uma piada boa e velha na internet que é sobre carro e quarto de homens e mulheres. Pra quem não conhece:


Hoje me deparei com o carro no estado de "carro delas". E pior: quem tem usado mais o bendito sou eu. A cadeirinha do Pedro estava ilhada entre papéis, orçamentos, notas, amostra de não sei o que e até um babador.

O Professor Homer Simpson ensina que o básico da sobrevivência do homem está em duas frases:

1- Não fui eu
2- Quando eu cheguei já tava assim

Olhei a bagunça e fiz uma retrospectiva em busca da origem de tanta zona já que não fui eu e quando eu cheguei já tava assim:

"Aquele papel ali eu trouxe do banco. Com a boca. Pra poder segurar a cadeirinha. Cuspi o danado no banco de trás pra pegar depois."

"Hmmm. Esse babador é da hora que fiquei esperando o fulano por meia hora na obra e tive que dar comida pro Pedro no carro mesmo"

"Esse cartão... o que é esse cartão no chão? Ah sim. Caiu do envelope do banco"

"E essa mochila... ah. Ta aqui porque eu dupliquei os apetrechos e ja deixo a mochila do Pedro no carro"

"Dinheiro!"

"Manuscrito com marca de pé... Lixo? Hum... JESUIS! São as medidas de piso e azulejo! Cópia única, não posso perder. Vai pro porta-luvas."

"Uia! Achei meu CD do beach boys no porta-luvas"

"Chinelo, panfleto, blusa de frio do começo da semana... aff preciso pagar essa multa"

Quer saber? Deixei tudo lá. Pelo menos quando eu perder alguma coisa é porque deve estar no carro.

Conclusão: a culpa é do Pedro! Safado bagunceiro. Em veículo meu jamais houve essa bagunça antes! Jamais!

Mas perae... antes eu andava de moto.

Realmente... Pedros mudam tudo.




segunda-feira, 5 de maio de 2014

Vem com a vovó, vem!

Semana de visita da vó.
Vó Lena e vô João vieram ver o Pedro e nos dar uma força também. Acho que ficaram com dó ao ver o último post onde declaro uma certa derrota pra rotina diária. Ficamos felizes com a visita e com a ajuda. Tem muita coisa acumulada pra resolver de obra, contabilidade, banco, etc e se tiver alguém só pra ficar com o guri já ajuda muito.

E veio a vó
Experiente vó
Resolvedora vó
cuidadora vó
tiradora-de-letra-vó

Junto com o vô
Experiente vô
Divertido vô
Fazedor-de-dormir-dançando-pela-casa vô

Viram de perto o Pedro
Comilão Pedro
Ativo Pedro
Acordado-a-noite-toda Pedro
Anti-berço Pedro

- Como vocês fazem hein? Agora entendo melhor tudo que vc escreve. Pelamor!

Generosos vôs
Esquecidos vôs.

Criaram 3 com muito menos recursos e acham agora que a gente faz grande coisa.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

O outro lado da licença maternidade

- E aí Flávio, beleza?
- Beleza. E vc, como ta a empresa lá?
- Vai bem. To precisando de um funcionário.
- Ah, tem uma conhecida que tá procurando. Acabou de sair de onde ela tava.
- Ah não. Precisa ser homem.
- Mas qual é a vaga?
- Caixa.
- Ué... o que tem contratar uma mulher pra ser caixa?
- Cara, de um tempo pra cá só contrato homem ou mulher com mais de 50. Não banco mais gravidez!

AAaaaahh! Imundo! Machista! Crapulasafadoporcochauvinista!!!!
Talvez. Mas olha o que descobri esses dias:

Antigamente a licença maternidade era paga pelo governo. A funcionária se afastava e o INSS pagava a licença diretamente a ela no período de afastamento. A mamãe recebia o benefício e o empregador continuava gastando exatamente o mesmo pra colocar uma funcionária temporária no período da licença. Justo.

Agora a coisa mudou e quem paga é o empregador. O INSS apenas reembolsa em forma de desconto do INSS que a empresa recolhe.

Explicando melhor usando salarios de mil reais como exemplo:

(Clique para ampliar)
*Os valores de encargos são aproximados

Em outras palavras: Quanto menor a empresa, mais difícil é pra ela bancar a contratação de mulheres.
Acho muito justo todo o discurso sobre salários iguais, condições iguais, tudo igual no mercado de trabalho. Mas eu não tenho coragem de condenar meu amigo microempresário porque ele desistiu de ser bom e humano amargando o prejuízo de uma lei mal feita. Afinal, numa empresa de dois funcionários (não vou nem falar das de 1) a despesa com folha de pagamento aumenta 35%.

Pouco? Pense qual seria o impacto na casa se de repente vc tivesse que aumentar em 35% o salário da sua empregada doméstica.

Problema isolado/pontual? Não se considerarmos que 60% dos empregos formais do país estão nas micro e pequenas empresas.

Iniciar um pequeno negócio é osso. Fazer a coisa sobreviver aos primeiros anos é uma batalha diária e tudo que um empreendedor não quer é mais uma torneira vazando custo fixo. Machista? Hum.

Além de tudo que já falei aqui sobre quanto o Brasil não está pronto para uma geração de pais presentes, ainda existe esse tipo de barbeiragem que coloca um abismo entre homens e mulheres na disputa por um cargo.

Todo mundo sabe que criar filhos custa caro. Só acho criminoso que esse custo afete tão fortemente quem não tem nada com isso: os empregadores. Principalmente os pequenos.



quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ja vai, JA VAI!!!!!

Pedro fazendo 8 meses, diminuimos o intervalo das comidas e introduzimos o suco.
Isso significa que a cada hora e meia, duas horas tem algo pra colocar goela abaixo no moleque. Algo que tem que ser cuidadosamente preparado, cozido, amassado, esterelizado,...

Confissão 1: estou sendo derrotado.

Bateu o cansaço e minha cabeça está começando a falhar e esquecer coisas. Tem sido muito mais dificil acordar e tenho atravessado a noite sem escutar ele chorar (calma, a mãe ainda escuta).

Não dá gente, verdade. O moleque agora fica bastante tempo acordado o que significa brincadeira, colo ou choro 100% do tempo. E "choro" não é um resmungo é aquele berreiro que parece que a criança tá sendo torturada.
Confissão 2: as vezes eu largo chorando e vou fazer o que tenho que fazer (geralmente pra ele mesmo, mas preciso das duas mãos).

Ainda bem que as coisas que preciso fazer na rua (banco, comércio, correio, cartório, etc.) são de carro e sabe-se lá porque, carro sossega criança. A fila preferencial nesses lugares ajuda um pouco, mas outro dia a paciencia da cria acabou e tive que discutir o assunto com o gerente do banco em pé, balançando pra lá e pra cá. Não sabia se o cara tava mais nervoso com o problema ou com o berreiro. Acho que fiquei conhecido na agência nesse dia.

Visitar a obra então tem sido chamar o pedreiro la na rua e conversar sobre como as coisas estao indo. Não da pra entrar numa construção com uma criança de colo. Se o mestre de obras estiver escondendo de mim que, por um pequeno erro, a porta do meu futuro banheiro da acesso a sacada eu só vou ver daqui uns meses.

Outro dia eu ouvi falar em criação por apego. Pelo que entendi é basicamente ficar 100% a disposição no nenê e dar todo colo que ele pedir. Sempre. Respeito o ponto de vista, mas acho que só funciona pra milionários ou gente que tá de férias. Se alguém souber como tocar uma vida com compromissos não-bebê seguindo essa linha sem ser podre de rico e com um monte de empregados, me fala!

Não quero parecer ingrato. É ótimo saber que o Pedro está dormindo bem, comendo apenas alimentos naturais em horarios bem regulares, que está saudável, alegre e com todas as vacinas em dia. Pediatra e fisioterapeuta são só elogios quando a gente vai lá. Tudo que mais importa vai muito bem.

Apenas registrando que o preço de tanta felicidade está sendo uma bela zona em todo o resto que tenho pra fazer no meu turno do dia. Sinceramente não me lembro como a gente se virava sem a Amanda, que recentemente nos contou que arrumou um emprego melhor e vai sair em breve.

Quando a gente vira pai as coisas não-filho se tornam muito menos importantes. Não tem como medir a alegria de ver um pessoinha se desenvolvendo bem sob nossos cuidados. Mas deixando a fofura de lado: puta que pariu, como eu to precisando de um dia maior!


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Assuntos que vão me complicar - Parte 1: a morte

Com as mortes da vó Carmen e tia Maria conversas aqui e ali surgiram em volta dos pequenos.
As duas familias tem um monte de crianças em diversas idades e cada casal tratou o delicado assunto a seu modo com a gurizada.

Fiquei pensando em diferentes estratégias quando chegar minha vez de explicar a morte do tio Benício* pro Pedro.

(*) morto fictício


Abordagem 1: religiosa

- Pai, o que houve com o tio Benício?
- Ah filho, ele foi pro céu. Agora ele está lá com os bisos e com Jesus
- Então ele tá bem?
- Tá sim. Lá é melhor que aqui.
- E quando ele volta?
- Ah, ele fica lá pra sempre.
- Mas pai, se lá é melhor, todo mundo se encontra e fica pra sempre por que todo mundo não vai logo pro céu?

[Abordagem descartada por problemas com a fé]

Abordagem 2: franca

- Pai, o que houve com o tio Benício?
- Ele morreu, filho.
- Como assim?
- O corpo dele parou de funcionar porque ele estava muito velho
- Então você também vai morrer quando for velho?
- Sim
- E eu, e a mãe, e o vô, e a Dinah e a Galinha Pintadinha?
- Sim filho.
- (prantos)

[abordagem descartada por excesso de realidade]

Abordagem 3: Disney

- Pai, o que houve com o tio Benício?
- Ele virou uma estrelinha
- Qual?
- Bom, não sei. Ma ele foi pro céu e se juntou as outras milhares estrelinhas
- Entào o tio Benício tá perdido?
- Não filho
- E quem sabe onde ele está?
- ...

[abordagem descartada por motivo de beco sem saída]

Abordagem 4: Mentira deslavada

- Pai, o que houve com o tio Benício?
- Foi morar numa caverna
- Aonde?
- Não sei. Ele não quer se incomodado nunca mais
- (prantos)

[abordagem descartada por impossibilidade de corrigir a história]


Abordagem 5: Esquiva

- Pai, o que houve com o tio Benício?
- Queeeem queeeeeeer McDonald'ssssssssss?
- EEEEEEEeeeeeeeee
- Legal né filho?
- Legal! Vou chamar o tio Benício!

[abordagem descartada por funcionar durante muito pouco tempo]

No fim, acho que não tem jeito. Vai rolar uma saia justa, um choro ou uma interrogação duradoura. Quem não for muito religioso ou muito bom mentiroso não sai dessa impune.



sexta-feira, 25 de abril de 2014

O luto de hoje

Mais uma vez, Pedro guerreiro viajou de carro 700km com uma paciência que nem eu tenho.
Mais uma vez, corremos pro Paraná pra nos despedir de alguém.
Desta vez foi a tia Maria.

Eis alguém que eu queria que tivesse durado o suficiente pro Pedro conhecer direito. A tia era dessas pessoas que ajudava todo mundo mas não havia a menor possibilidade de conseguir ajudá-la. Aposentada ha varios anos pelo INSS, foi no seu tempo uma funcionária pública fora do padrão. Entrou na frente de muito atendente preguiçoso pra corrigir má informação.

Atendente: Seu processo ainda nao chegou senhor
Velhinho: Ah... certo. obrigado
Tia Maria: Ô! ÔO! PERAE! Nao vai embora não! Procura direito que ta aí, o fulana!

E quase sempre tava lá mesmo. A última briga pública dela que eu soube foi pra convencer um guarda de trânsito a não multar uma senhora (desconhecida) estacionada na vaga de motos. Afinal, tem moto que para em vaga de carro né? Não era justo.

Ela era assim. Tinha a sua própria lei e era a que valia. Qualquer notícia de jornal acabava em alguma grande teoria da conspiração. Ela entendia todos os bastidores do peão ao general. Do campeonato da terceira divisão ao Planalto.

Foi mãe de vários sem jamais ter tido um filho. Cuidou de sobrinhos, irmãos, pai, mãe e aprendeu tanto sobre hospitais e internações que não havia médico ou enfermeira que tivesse sossego enquanto não aceitasse o jeito certo dela de curar as pessoas.

Na casa da tia podia tudo e mais um pouco. Se quisesse podia até morar lá pra sempre. Ninguém ligado a ela jamais fazia algo errado. Se a gente roubasse um banco com certeza o banco teria merecido. Quem mandou dar sopa pros sobrinhos mais espertos do mundo?

Podia combinar o que quisesse com a tia Maria. Era fácil. Só não podia se importar que no final ela fizesse mesmo do jeito dela. Até pra tratar a grave doença que teve ia aos médicos meio que na surdina. Quase era preciso grampeá-la pra saber ao certo o que se passava. Dia desses ela informou que ia começar um novo tratamento. Se internou pra colocar um cateter e seguir rumo a cura. Aí, bem ao seu estilo, não voltou da anestesia.

Não era isso que estava combinado. Ao menos, não com a gente. Na cerimônia de hoje onde nos despedimos, até as músicas já estavam escolhidas. Por ela, naturalmente.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

5 novidades

Voltamos.

Feriado prolongado foi de passeio.

Novidade 1 - Pela primeira vez levamos o Pedro numa viagem onde não tinha nada pra nos socorrer com as Pedrisses. Explico: até hoje só tínhamos viajado com o moleque pras casas de vó ou de amigos que tem filho. Isso significa que nossos anfitriões sempre tinham facilidades pra nos oferecer como berços, banheiras e outras coisas que fazem uma puta diferença na bagagem.

Desta vez não. Casa de praia. Zero equipamentos de bebê. Bom teste, inclusive pro nosso carro, já que eu me recuso terminantemente a ter um carro enorme como um sedan, perua, van, etc antes dos 50. A propósito, a viagem também embalou a comemoração dos meus 35. Assim que possível vou procurar qual é a crise certa pra essa idade. Ouvi dizer que tem alguma.

A viagem estava marcada faz tempo, casa reservada e tudo quando a médica nos informou que o Guri ainda não pode com praia. Pois é. Os olhos dele ainda não estão prontos pra tanta claridade e ele precisaria ficar guardado durante o dia. Frescura desgraçada hein? Mas preferimos não arriscar. Se for pra contrariar a orientação, pra que levar no médico né? Combinamos de revezar quem perdia a praia pra ficar com o guri.

Novidade 2 - Entrar no Rio de Janeiro de carro é tenso. Não pelo que se vê, mas pelo que vc ouve da boca dos outros sobre arrastões, matanças, e barbaridades em geral. A sensação de perigo senta no banco de traz e fica lá limpando a garganta pra vc não esquecer dela. Eu tava até com um plano de fuga mental quando alguém me botasse o treizoitão: enquanto eu entregava as chaves do carro a Elaine tirava a cadeirinha e caía na quiçaça.  Tava ensaiadinho na cabeça. Até a notícia do JN já tinha - "Caipira passeando no RJ foge de assalto na linha vermelha e é atropelado por motoboy. Testemunhas afirmam que uma mulher caipira foi vista entrando no mato com uma criança caipira.Vamos agora falar da casa da vó caipira pra saber como ela está se sentindo".

Não teve assalto mas errei o caminho. Eu vi na TV que quando vc erra o caminho no RJ vc sempre cai no meio de uma favela e um traficante malvado fuzila você, toda sua família e manda veneno pelo correio pro seu cão que ficou em casa morrer também. Se falou na TV é verdade, então fiquei com algum medo. Mas quando me perdi tava na frente do portão do Framengo, foi fácil voltar pro trecho. Vivo.

Novidade 3 - É possível um caipira dirigir no Rio e sair ileso. Ajuda bastante manter-se perto de bons pontos de referencia, mesmo perdido.

Já na casa descarregamos malas, sacolas, criança, brinquedos, comidas, etc etc etc e tinha bastante "etc" viu... ta loco. Pra facilitar as coisas tínhamos preparado um arsenal de papinhas em casa e levamos tudo congelado. Aliás, quero recomendar um treco que ganhamos de presente e foi excelente: uma bolsinha térmica que conservou tudo pelas 6 horas de viagem. Esse link aí é só pra ilustrar. Eu não conheço a loja e não ganho nada pra fazer propaganda da marca. É só um treco que usei, aprovei e recomendo. As pedrinhas de gelo que colocamos lá dentro nem derreteram.Supimpa!

Tudo arrumado. Vamos pra praia. E o Pedro?
- Eu fico
- Ah, nao. Vai la. Eu fico.
- Não, pode deixar. Eu fico aqui com ele.
- OK. Fica então
- Já pra praia vocês dois. EU fico!

Novidade 4 - Algo que não temos no dia-a-dia: a presença da vó e o prazer que ela sente abrindo mão da programação oficial pra ficar com o neto.
Curtimos uma manhã da nossa antiga família de 2 e notamos que ser 3 ainda é a maior das novidades. Ficar ali batendo papo sem prestar atenção em nada ainda é o que nos parece a vida "normal" e cuidar de pessoinhas ainda é meio maluco demais.

Novidade 5 - Passa umas 2 horas e dá saudade do filho. Sério.

Rocinha a noite (panoramio.com)





sexta-feira, 11 de abril de 2014

Má que pocavergonha!

Ontem a Rafa me mandou uma campanha gringa muito legal. Chama-se "if I could, I would" que em inglês significa mais ou menos "se eu pudesse, eu faria". Trata-se de um movimento que incentiva os homens a darem todo apoio a suas parceiras no período de amamentação. Serviu muito bem pra colocar aqui no nosso blog, que além de divertir as pessoas com minhas trapalhadas de pai, tenta plantar em todos uma consciência de que pais e maridos podem ser mais participativos.

Algumas imagens da campanha:






A coisa começou porque por incrível que pareça tem vários lugares que reprimem as mulheres por darem de mamar na frente dos outros. Que coisa né? A campanha é de fora mas aqui no nosso país, esse mesmo da peladeira na TV, o pessoal é todo encanado com uma mulher com o seio parcialmente a mostra pra alimentar seu filho.

Eu entendo perfeitamente a mãe que fica constrangida de dar de mamar em público. O que eu não consigo entender é quem olha torto pra isso. Já ouvi histórias muito cabeludas de mães que tiveram que se retirar de onde estavam amamentando por atentar contra o pudor (?). Algumas viraram notícia:

Expulsa de ônibus
Chamada de vagabunda
Expulsa de lanchonete
Expulsa de igreja

Agora porque a mulher tá mostrando o peito isso é uma pocavergonha? Ah... pelo amor de deus.

Então amamentar é feio, mas avaliar todas as bundas do escritório durante o café é bonito?

Então amamentar é feio, mas ler a Nova com técnicas secretas de dar pra 5 ao mesmo tempo é super legal?

"Ah, mas é chato uma mulher amamentando ali na presença do meu marido."

Minha amiga... se tiver um cara maior de 12 anos que olha pra uma mulher amamentando querendo descolar um ângulo erótico ele precisa de tratamento urgente. Talvez vc tb precise. Bom dar um jeito nessa insegurança aí, né não?

O ponto é que precisamos parar com essa besteira de fazer a relação seios => sexo => sujo.
Larguem de ser caretas e deixem os bebês se alimentarem onde bem precisarem. Enfie na cabeça que fome de criança está acima de todos os seus preconceitos e muito além de toda essa sujeira que tem na sua cabeça.

A campanha acima (http://projectbreastfeeding.com/) é muito bonita e bem organizada. Tem muitos vídeos que falam muito melhor que eu sobre o assunto, mas infelizmente não encontrei nenhum legendado. Por hora, só em inglês.

No final das contas, acho que não sobrou muito da pessoa-bicho-mamífero que éramos ha milhares de anos. Perdemos pelos, passamos a andar eretos e ficamos mais habilidosos. Mas o basico da vida continua lá: mamar no peito da sua mãe. Primitivo e perfeito, o ato tem cada vez mais incentivo e benefícios comprovados. Por isso se vc acha feio ou despudorado uma mulher amamentando, é você que tem um problema, não ela.

Pense que sempre aquela mãe ali "com a teta de fora" jamais precisaria ter de se preocupar em cobrir/esconder o que está fazendo. Assimile que ela já está na verdade bem coberta. Coberta de razão.